Quem nunca sentiu uma chama arder nas entranhas ao meditar no Evangelho de são Marcos “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu espírito e de todas as tuas forças.”( Mc 12,30)? Que grandioso convite Deus nos instiga, através do evangelista.
Quantas vezes a sociedade julga esse dom tão belo apenas como renúncia ao envolvimento sexual. Ser celibatário não é apenas abster-se de um relacionamento afetivo-sexual com um semelhante do sexo oposto. É canalizar toda essa potência de amor e doação, que todos naturalmente nasceram capacitados, ao serviço de Deus e da humanidade. Devendo esse amor que não nasce "nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas sim de Deus" (Jo 1,13) ser vivido de uma forma totalitária e "sem distinção de pessoas," (At 10,34).
Esse chamado especial de amar não deve ser expressado partindo de nossa limitação humana, pecadora e infiel. Mas, chamados a amar com o coração e a liberdade de Deus, amando a todas as pessoas sem ligar-se a nenhuma e sem excluir alguma, não agindo com critérios de simpatia ou afeto. A exemplo do próprio Jesus, amar aqueles que mais eram julgados de não serem dignos de amor.
Consciente do papel diferenciado que é chamado na sociedade, o celibatário deve amar em particular quem é mais tentado a não se sentir amável ou quem realmente não é amado.
O que vivifica a vocação é o amor. Como “todo” amor, o que move primariamente a vocação não é a renúncia a instintos e tentações, muito menos dizer não a experiência de amar e ser amado. Também não nasce de um desejo e pretensão de perfeição ou de uma imposição doutrinária e canônica. Muito menos de uma imposição interna como medo do outro sexo, desengano de relacionamentos anteriores ou fuga da homossexualidade. A escolha em atender ao chamado de Deus pelo celibato, em vista do Reino, consiste no amor, tem sua fonte e fim no amar.
Descobrir a beleza Daquele a quem contemplamos como nosso Pai, Senhor, Salvador e Amado e experimentar a potência da minha capacidade de amar sem medidas, quando amo com o seu coração é a água de nosso chamado. Água essa que nutre quando se há aridez, purifica quando se há sujeira em enxergar e rega quando se deseja crescer.
O Amado de nossa vocação é Deus e tudo que Ele leva consigo. Espiritualmente podemos citar: a Eucaristia sendo vivenciada como memorial vivo da Paixão e Ressurreição de Nosso Senhor, celebrado pela Igreja Universal. O respeito e incentivo às devoções populares (coerentes com a sã doutrina) que o povo simples de Deus tributa ao Senhor com amor e fervor. A oração pessoal como momento de intimidade com o Esposo. Vivendo e buscando conformidade com o agir de Deus, fazendo tudo por, para, com e em Maria Santíssima.
Contudo, o amor divino e humano não se rivaliza ou rompe-se, pois o objeto de nosso amor é também o próximo. Principalmente o próximo que o Senhor confiou aos nossos cuidados: àqueles que desejam consagrarem-se a Jesus pelas mãos da Virgem Maria, as crianças e jovens catequizados por nosso Carisma e ao Clero que somos chamados não apenas a rezar mas a exortar a sua adoção espiritual.
Brota de nosso coração a dúvida de como amar. Podemos afirmar que amar com totalidade é amar a Deus com o coração humano e amar a Criatura com afeição divina. Amar com nosso coração de carne educado pela liberdade de Deus a amar com a Sua altura, largura e intensidade. Como Jesus e a Virgem Maria na Cruz, que amaram a Deus acima de tudo e o homem distante de Deus com o pecado.
É certo que a renúncia aos laços definitivos e exclusivos com qualquer criatura é renunciado ao abraçar o amor de Deus com o coração pleno. Não preferindo e nem excluindo por instinto, espontânea atração e nem interesse pessoal. Mas essa renúncia em vista d’Aquele que será abraçado, parece-nos suave e necessária para que alarguem-nos os braços a fim de estar abraçando ainda nesta terra o que havemos de desfrutar e adentrar plenamente no Céu.
Esposo(a) do Eterno, olhai e vede quão suave é o Senhor! E toda a figura desse amor terreno perderá seu brilho e com os olhos além do horizonte dessa vida já podereis vislumbrar as núpcias com Aquele que nosso coração ama e busca sem cessar(Ct 3,1).
Ó Virgem Maria, Esposa das esposas, ensinai-nos o querer do Amado e ajudai-nos a empreender tudo para a sua plena realização. Guardai-nos santos, imaculados e irrepreensíveis aos olhos do Pai a fim de que sejamos receptáculo e dispenseiros desse amor à humanidade. Abrasai-nos com as chamas de Vosso Coração Imaculado e inflamai-nos com a Vossa caridade ardente. Dai-nos uma fé pura e uma esperança firme nas promessas da eternidade para que ainda nesta terra cantemos um cântico novo ao Senhor. Ó Mãe Fiel, sendo Vós o nosso modelo, orientai a nossa vida para que sejam oferecidas como primícias ao Cordeiro. Amém!
Isabelle de Maria
Consagrada a Nossa Senhora.
Para citar esse artigo:
Isabelle de Maria - "Celibato: Um chamado de Deus, um dom do Espírito, uma resposta minha"
Fraternidade Discípulos da Mãe de Deus
http://formacaodiscipulosdamaededeus.blogspot.com/2011/08/celibato-um-chamado-de-deus-um-dom-do.html
Online, 13/08/2011
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