O que significa rezar? É importante? Que lugar ocupa em nossa
vida? Estas e outras perguntas assomam à consciência do cristão. Os evangelhos
relatam que Jesus passava noites inteiras em oração, a sós com Deus (Lc 6,12).
Os apóstolos pediram a Jesus que lhes ensinasse a rezar. Assim, permaneceram em
prece, esperando com Maria a vinda do Espírito Santo (At 1,22). Lucas narra que
os primeiros cristãos “eram perseverantes
na oração” (At 2,42). Paulo orava incessantemente e recomendava o mesmo aos
fiéis (Ef 1,16; Fl 1,4; Rm 12,12; Cl 4,2). Inegavelmente, a oração é uma
manifestação da fé e da vida eclesial.
No tempo de Cristo, os mestres ensinavam os discípulos a
orar. Existem muitas maneiras de rezar hoje, assim como vários “mestres de
oração”. Jesus desaconselhava a oração dos hipócritas (Mt 6,5), que rezavam
apenas com os lábios, mas cujo coração estava longe de Deus (Mc 7,6), Ele
advertia também para não orar como os pagãos, que pensavam convencer Deus com
muitas palavras (Mt 6,7). Cristo, então, ensinou o Pai Nosso (Mt 6,9-15; Lc
11,2-4), mostrando que a prece é diálogo com o Pai.
Rezamos, às vezes, de maneira abstrata, como se Deus fosse
algo que pudesse ser capturado com palavras ou ritos mágicos. O batismo
tornou-nos seus filhos e permitiu dirigirmo-nos a Ele, como Pai. E a um pai,
falamos com confiança e simplicidade. Não somos estranhos a Deus, nem Ele a
nós. Por isso, nossa prece se traduz em agradecimento, súplica, desabafo,
pedido de perdão etc. É um ato de amor e intimidade com nosso Pai. Diante Dele,
somos crianças e, como tal, podemos nos sentir em seu colo, falar-lhe
livremente, chorar, permanecer envolvidos em sua ternura, sem dizer uma só
palavra. Eis o que também é rezar.
Não devemos esquecer a beleza e a importância da oração, a
partir dos salmos. Quanta inspiração encontramos ali, onde o salmista traduz,
de maneira iluminada, nossos sentimentos e estado de alma. Eis o exemplo do
Salmo 71/70. Trata-se de uma prece que nos mostra a existência terrena.
Primeiramente, há um ato de fé: “Ó Deus,
sois minha esperança! Aprendi a confiar em vós desde a minha juventude, sois
meu amparo, desde o seio materno. Vós me conheceis, desde que eu nasci” (v
5-6). Continua externando sentimentos de gratidão aos céus por seu amor e o
reconhecimento pela generosidade e misericórdia divinas. “Por isso agradecido vos louvo sem cessar... Porque vossa graça tem
agido em mim. Minha boca está cheia de louvores, não paro de glorificar-vos,
Senhor meu Deus!” (v 6-8).
Mas, o salmista tem consciência de que ao
avançarmos em idade, vamos perdendo a firmeza e aumentando os medos. Conhece
nossa fragilidade e efemeridade. Por isso, assim clama: “Não me abandoneis agora que estou ficando velho e vou perdendo o vigor
humano (v 9). Não fiqueis longe de
mim, ó Deus!”! (v 12). Mesmo que tenhamos sido fiéis ao longo de nossa
vida, não deixamos de ser pecadores, nem sempre agimos corretamente. Mas, isto
não deve apagar nossa esperança em Deus. O importante é saber arrepender-se e
confiar no amor e perdão infinito do Pai. É o que o Salmo 71/70 nos ajuda a
fazer em sua parte final: “Quanto a mim,
sempre esperarei em vós e quero louvar-vos cada dia com mais fervor.
Celebrarei, agradecendo as grandes obras que fizestes e a justificação pela
qual somente vós nos dais a salvação” (v 14-16). “Vós, ó Deus, me tendes instruído desde a juventude e, desde então,
venho cantando a grandeza de vossas maravilhas. Agora estou velho e meus
cabelos estão brancos, mas vos peço: Senhor, permanecei comigo para que eu
possa anunciar às novas gerações o vosso poder sem igual” (v 17-18). Que
também a nós o Senhor conceda mais fé, alegria, gratidão e ternura, enquanto
permanecermos peregrinos nesta terra!
Pe. João Medeiros Filho, indigno escravo de amor.
Para citar esse artigo:
Pe. João Medeiros Filho - "Salmos - Convite à Oração"
Fraternidade Discípulos da Mãe de Deus
http://formacaodiscipulosdamaededeus.blogspot.com.br/2013/11/salmos-convite-oracao.html
http://formacaodiscipulosdamaededeus.blogspot.com.br/2013/11/salmos-convite-oracao.html
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