terça-feira, 5 de novembro de 2013

A VIRTUDE DA GRATIDÃO


A gratidão é uma das grandes virtudes do ser humano. Madre Teresa de Calcutá a definia como “a delicadeza da alma” e Esopo, “a virtude das almas nobres”. Jesus tratou desse tema com os seus discípulos. Lamentou a ingratidão. Há algumas semanas, na missa dominical, lemos a narrativa de Lucas, no capítulo dezessete (Lc 17, 11-19) sobre a cura dos dez leprosos por Cristo. Todos foram agraciados, após suplicarem: “Mestre, tem compaixão de nós” (Lc 17, 13). Um dos leprosos, ao perceber que havia sido curado, voltou glorificando a Deus, em alta voz, e prostrando-se aos pés do Senhor,  agradeceu-lhe. Então Ele perguntou: “Por acaso, não foram dez os curados? E os outros nove, onde estão?” (Lc 17, 17).
Jesus ressaltou que apenas o samaritano voltou para agradecer o milagre. E com isto ensina-nos que a sensibilidade humana não é determinada pela raça, religião, cultura ou classe social. É uma questão de maturidade, cultivada pela experiência de saber reconhecer os dons recebidos. A gratidão transforma nossos corações e ilumina nossos olhos. Permite-nos entender a vida de modo diferente. Quem dá, participa do mistério do Pai, que concede tantos bens e graças a seus filhos. Agradecer é a consciência dessa gratuidade.
A gratidão faz crescer, no coração do homem, o sabor pela bondade. Ajuda-nos a eliminar sentimentos que obscurecem a mente e o coração, fecundando o desejo de ser bom. Dissipa os males que enfraquecem a compaixão e fortalecem a indiferença. Ajuda a vencer a soberba e a inveja, tantos outros vícios e erros de uma sociedade, que adota as dinâmicas desastrosas da disputa e do ódio.
São Francisco afirmou que “a gratidão é uma das moedas mais difíceis de ofertar na vida”. Por isso, preocupava-se sempre em ser grato a tudo e a todos. Agradecia ao irmão sol por aquecê-lo e proporcionar vida à terra; ao irmão vento por acariciá-lo e à natureza, nos dias de calor; à irmã lua por enfeitar as noites de céu claro; ao irmão sofrimento, que lhe permitia aprendizados sobre o viver humano. O exemplo do Poverello de Assis remete-nos a profundas reflexões, neste tempo em que predominam a insensibilidade, o desinteresse, o desrespeito e o descaso pelo outro. Na desenfreada busca pelo sucesso, pela sobrevivência, pelas tarefas cotidianas, vivemos encastelados, envoltos em nossos problemas e desafios. Nesse tumultuar de compromissos e dificuldades, não paramos para perceber tudo aquilo que Deus nos dá e, egoisticamente, esquecemo-nos de agradecer.
Os amores dos filhos que, aconchegados em nossos braços, parecem diluir as dores da alma, quem no-los ofertou? A possibilidade do progresso profissional, os desafios de crescimento humano, as chances de desenvolvimento do intelecto, a paz interior, o bem-estar do espírito, quem nos concede? O corpo, que nos é instrumento de expressão, trabalho, convivência, emoções, quem no-lo presenteou? E nós, mal nos damos conta da grande bênção da saúde, quando nossa corporeidade, apesar das deficiências ou limitações, oferece-nos oportunidades riquíssimas.
            Temos o costume de agradecer à vida e a Deus pelas nossas conquistas e alegrias? E também, por que não sermos gratos ao Pai pelo mal que não nos atingiu, pelas dores que não precisamos suportar? E mesmo que os dias difíceis nos cheguem à jornada terrestre, agradeçamos a dor, que lapida a alma  imperfeita, fazendo brotar virtudes que ainda permanecem latentes em nossa intimidade. Deveremos sempre recordar que dependemos da bondade e misericórdia do nosso Criador, o qual nos sustenta na caminhada. A gratidão será o sentimento que nos inundará a alma de bênçãos divinas, doce quietude e suave luz.






Pe. João Medeiros Filho, indigno escravo de amor.
Para citar esse artigo:
Pe. João Medeiros Filho - "A Virtude da Gratidão"
Fraternidade Discípulos da Mãe de Deus
http://formacaodiscipulosdamaededeus.blogspot.com.br/2013/11/a-virtude-da-gratidao.html

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