A gratidão é uma das
grandes virtudes do ser humano. Madre Teresa de Calcutá a definia como “a delicadeza da alma” e Esopo, “a virtude das almas nobres”. Jesus
tratou desse tema com os seus discípulos. Lamentou a ingratidão. Há algumas
semanas, na missa dominical, lemos a narrativa de Lucas, no capítulo dezessete
(Lc 17, 11-19) sobre a cura dos dez leprosos por Cristo. Todos foram
agraciados, após suplicarem: “Mestre, tem
compaixão de nós” (Lc 17, 13). Um dos leprosos, ao perceber que havia sido
curado, voltou glorificando a Deus, em alta voz, e prostrando-se aos pés do
Senhor, agradeceu-lhe. Então Ele
perguntou: “Por acaso, não foram dez os
curados? E os outros nove, onde estão?” (Lc 17, 17).
Jesus ressaltou que
apenas o samaritano voltou para agradecer o milagre. E com isto ensina-nos que
a sensibilidade humana não é determinada pela raça, religião, cultura ou classe
social. É uma questão de maturidade, cultivada pela experiência de saber
reconhecer os dons recebidos. A gratidão transforma nossos corações e ilumina
nossos olhos. Permite-nos entender a vida de modo diferente. Quem dá, participa
do mistério do Pai, que concede tantos bens e graças a seus filhos. Agradecer é
a consciência dessa gratuidade.
A gratidão faz
crescer, no coração do homem, o sabor pela bondade. Ajuda-nos a eliminar
sentimentos que obscurecem a mente e o coração, fecundando o desejo de ser bom.
Dissipa os males que enfraquecem a compaixão e fortalecem a indiferença. Ajuda
a vencer a soberba e a inveja, tantos outros vícios e erros de uma sociedade,
que adota as dinâmicas desastrosas da disputa e do ódio.
São Francisco afirmou que “a gratidão é uma das moedas mais difíceis de ofertar na vida”. Por
isso, preocupava-se sempre em ser grato a tudo e a todos. Agradecia ao irmão
sol por aquecê-lo e proporcionar vida à terra; ao irmão vento por acariciá-lo e
à natureza, nos dias de calor; à irmã lua por enfeitar as noites de céu claro;
ao irmão sofrimento, que lhe permitia aprendizados sobre o viver humano. O
exemplo do Poverello de Assis remete-nos
a profundas reflexões, neste tempo em que predominam a insensibilidade, o
desinteresse, o desrespeito e o descaso pelo outro. Na desenfreada busca pelo
sucesso, pela sobrevivência, pelas tarefas cotidianas, vivemos encastelados,
envoltos em nossos problemas e desafios. Nesse tumultuar de compromissos e
dificuldades, não paramos para perceber tudo aquilo que Deus nos dá e,
egoisticamente, esquecemo-nos de agradecer.
Os amores dos filhos que, aconchegados em nossos
braços, parecem diluir as dores da alma, quem no-los ofertou? A possibilidade
do progresso profissional, os desafios de crescimento humano, as chances de
desenvolvimento do intelecto, a paz interior, o bem-estar do espírito, quem nos
concede? O corpo, que nos é instrumento de expressão, trabalho, convivência,
emoções, quem no-lo presenteou? E nós, mal nos damos conta da grande bênção da
saúde, quando nossa corporeidade, apesar das deficiências ou limitações,
oferece-nos oportunidades riquíssimas.
Temos o costume de agradecer à vida e a Deus
pelas nossas conquistas e alegrias? E também, por que não sermos gratos ao Pai
pelo mal que não nos atingiu, pelas dores que não precisamos suportar? E mesmo
que os dias difíceis nos cheguem à jornada terrestre, agradeçamos a dor, que
lapida a alma imperfeita, fazendo brotar virtudes que ainda permanecem
latentes em nossa intimidade. Deveremos sempre recordar que dependemos da
bondade e misericórdia do nosso Criador, o qual nos sustenta na caminhada. A
gratidão será o sentimento que nos inundará a alma de bênçãos divinas, doce
quietude e suave luz.Pe. João Medeiros Filho, indigno escravo de amor.
Pe. João Medeiros Filho - "A Virtude da Gratidão"
Fraternidade Discípulos da Mãe de Deus
http://formacaodiscipulosdamaededeus.blogspot.com.br/2013/11/a-virtude-da-gratidao.html
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