segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O Natal é essencialmente uma festa Eucarística

Por Pe. Júlio Maria de Lombaerde


Neste dia o povo cristão apresenta-se diante do presépio, onde é representada a cena inolvidável de Belém, experimenta nesta vista, até sem o querer, sentimentos de admiração e de ternura: é a lembrança do menino Deus, de Deus feito criancinha... deitado ali na pobreza mais completa, no mais total abandono.

Cada Tabernáculo é um novo presépio, onde nasce o Salvador, na mesma pobreza, envolto em paninhos e deitado numa manjedoura, onde Ele quer ser tomado pela comunhão.

Belém e o Tabernáculo
Se a luz da fé não nos iluminasse, quem seria capaz de reconhecer no menino de Belém o Criador do universo, Aquele que governa o mundo, preside os destinos da criação, o Senhor do paraíso?

No paraíso Ele está sentado num trono de glória e de grandeza suprema. Em Belém está reclinado no presépio humilde e de desprezo. No paraíso, resplandece de majestade. Em Belém está envolto em faixas infantis. No paraíso é infinitamente feliz na contemplação e no amor na sua essência. Em Belém está sujeito aos sofrimentos, derramando lágrimas entre rangidos de dor.

E quem obrigou o Deus infinito se abaixar do paraíso, nesse pobre presépio?

Foi o amor (Jo 3,16). É a única palavra que explica o presépio, calvário e o tabernáculo. Não procuremos outra explicação: tudo está aí! Deus amou tanto o homem, que se fez criança para acariciá-lo! Que se fez vítima para salvá-lo! Que se fez pão para ser alimento.

É o amor de Deus pelos homens que o tornou pobre, aniquilado, sujeito aos sofrimentos, para que sua pobreza enriquecesse a nossa vida - para que as humilhações nos merecessem a glória celeste, - para que os seus sofrimentos fossem a nossa felicidade.

É por isso que os anjos anunciam a paz, quando o Senhor do universo está reclinado num presépio de animais. A paz, de fato, não está na grandeza, na glória; mas sim na humildade... ela habita a choupana do pobre, e muitas vezes foge do palácio dos ricos.

Jesus nasceu na pobreza, morrerá na pobreza e continuará a sua vida eucarística na pobreza de nossos tabernáculos e na pobreza extrema de nossos corações. Notemos que há aqui uma sucessão, divinamente preparada... para evitar transições chocantes, que repugnariam a majestade divina e a nossa confiança em Deus.

O termo da encarnação é a Eucaristia, ou melhor, é o coração do homem que Jesus Cristo quer conquistar, e no qual quer fixar a sua morada. Ora, o coração do homem é tão estreito, tão mesquinho, tão pobre, tão manchado que se fica tomado de pavor estudando-lhe as aspirações e as tendências. É neste coração entretanto que Jesus quer morar.

Agora, meçam a distancia entre o esplendor da glória celeste... e o abismo frio do coração humano.

Deus não pode descer diretamente, é preciso que Ele deponha um por um, os raios da sua glória, até poder entrar neste coração.

É o que Ele fez para a encarnação. Despe-se do aparato de sua Divindade: E ei-lo sob as aparências de uma criancinha. Despe-se de sua glória: E ei-lo reclinado numa pobre manjedoura.

Mais tarde despir-se-á de sua dignidade, será pregado na cruz como malfeitor. Despir-se-á, enfim, até da aparência humana, velando-se pelas aparências de um pouco de pão.

Estas próprias aparências de pão, serão destruídas pela manducação, e Ele, o grande Deus, o grande Glorioso, espiritual, entrará diretamente em contato com nosso coração... sem intermediário: coração a coração.

Que maravilha admirável! Só Deus pode imaginar e realizar tais maravilhas: Belém e o tabernáculo.
Manjedoura CelesteAgora, compreendemos melhor a relação íntima que há entre Belém e o Tabernáculo; este último é o prolongamento da primeira.

Belém significa: casa de pão, foi ali que se preparou o pão vivo, o pão descido do céu, que está depositado na Eucaristia.

Jesus escolheu Belém para berço, porque devia permanecer na Eucaristia, como alimento de nossa vida.

Em Belém, Ele se mostrou pequeno; na Eucaristia ele se mostra aniquilado. Em Belém, Ele escondia a sua divindade; na Eucaristia Ele esconde divindade e humanidade. Em Belém eram pobres faixas que envolviam o seu corpo; na Eucaristia são as espécies de pão que nos encobrem os encantos de sua beleza. Em Belém, estava reclinado num miserável presépio; na Eucaristia está num Tabernáculo não menos pobre. Em Belém encontrará alívio de seus sofrimentos no amor de sua mãe, de seu pai adotivo, dos inocentes pastores, na Eucaristia recebe as afrontas e os desprezos de seus próprios irmãos.

Mas quem vos obrigou, ó grande Deus, a esconder-vos na Eucaristia?

É a mesma resposta: seu amor para conosco!

Desejava unir-se intimamente ao nosso coração, e para realizar este desejo, escondeu sob espécies de pão, a grandeza da sua divindade e a glória de sua humanidade.

Mas, examinemos de mais perto o Tabernáculo. Em Belém, Jesus podia ter tido um pequeno berço, uma rede, como usam os orientais; podia, sim, mas não convinha.

Belém é a casa do pão. O pão é um alimento; é preciso pois, depositá-lo num receptáculo de alimento: e este receptáculo é a manjedoura, na qual se costuma depositar milho, farelo, farinha... para alimentar os animais.

Jesus querendo ser alimento, devia ser depositado numa manjedoura.

A Eucaristia continua o seu estado. Ele é o nosso alimento. O Tabernáculo pelas suas dimensões estreitas, é a continuação e o prolongamento da manjedoura.

Ele está ali deitado sobre os alvos paninhos do altar, esperando a visita dos pastores e dos magos, dos pobres e dos ricos, por eles representados.

Em Belém, Jesus estava reclinado numa manjedoura terrestre, porque era Deus feito homem. Na Eucaristia, ele está reclinado numa manjedoura celeste, porque é Deus-homem feito pão celeste.

Pão celeste, pão do céu, pão dos anjos, pão divino reclinado na manjedoura celeste da Eucaristia, Ele aspira a descer no coração de seus filhos, como em Belém, ele aspirava a ser acalentado nos braços da virgem pura, de José, dos pastores e dos magos.
ConcluindoÓ presépio de Belém, lembrai-me o presépio da eucaristia.

Neste dia que festejamos Deus feito homem, lembremo-nos do Deus homem feito pão.

Não se limite a nossa vista à parte exterior, material, deste dia abençoado, mas penetremos nos desígnios de Deus, e depois de ter adorado o grande Deus, feito criança... aproximemo-nos da mesa sagrada, para aí receber a criança feita pão para nossas vidas.

É o mesmo Jesus! Ele começou a sua carreira no presépio de Belém... mas quer terminá-la no presépio de nosso coração.

Em Belém, Ele veio para amar; na Eucaristia Ele está para alimentar. Em Belém, Ele veio trazer-nos o seu amor; na Eucaristia, Ele vem receber o nosso amor.

Cantemos pois, alegres, com a Igreja: Quem não amará em retribuição aquele que tanto nos amou? Quem não receberá aquele que se faz alimento?

Quem não irá haurir a vida no coração daquele que vem trazer a vida e a felicidade?

Jesus do presépio, sede também o Jesus no nosso coração!




Fonte: Mistagogia Eucarística do Pe. Júlio Maria De Lombaerde - Ed. O Lutador.







Jorge Bahia Cezar Filho, Discípulo da Mãe de Deus - Salvador/BA 

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