Já no início da Idade Média, durante o mês de maio, a
Igreja começou a venerar Nossa Senhora e passou a homenagear Aquela que é
estrela de nossas noites e travessias. E por que a Igreja dedicou à Virgem Mãe
de Deus o quinto mês do ano? A Ladainha
de Nossa Senhora contém várias invocações que ajudam a compreender esta
devoção. Ali invocamos a Mãe de Cristo com alguns títulos importantes: Rosa Mística e Estrela Matutina. A estrela da manhã é o sol, o dia, a aurora. Do
Céu, Maria é a luz que brilha e ilumina nossos caminhos. Nas horas do Ofício
Divino, diversas vezes saudamos Maria como Aurora de nossas vidas.
No
hemisfério norte, maio situa-se em plena primavera, estação das flores, da
beleza e da graça. No entanto, vale conhecer as origens desse mês para que se
possa compreender melhor a simbologia religiosa. A incursão pela mitologia
ajudar-nos-á a reconhecer outras razões da consagração do mês de maio a Nossa
Senhora.
Segundo
alguns pesquisadores, o calendário romano reformado por Júlio César em 45 A.C. (modificado
posteriormente pelo Papa Gregório XIII, daí o nome de calendário gregoriano), dedicava o quinto mês do ano ao deus Apolo
(irmão gêmeo de Ártemis), o qual recebeu de Hipérion o sol, a lua e a aurora.
São famosos os versos de Byron que lhe são dedicados: deus da vida, da luz e da poesia, o sol em forma humana apresentado.
A lenda conta ainda que Apolo matou uma grande serpente, chamada Píton, que
atemorizava o povo. Consoante outros estudiosos, o mês de maio era dedicado à
deusa Maia, mãe de Hermes, da qual se
originaria a palavra maio. De acordo
com relatos mitológicos, Maia era a deusa dos campos e das flores.
A
Igreja, desde as suas origens, em sua sabedoria milenar, parte de símbolos e da
cultura dos povos para revelar sua mensagem. Já o apóstolo Paulo, no Areópago
de Atenas, referindo-se ao altar consagrado Ao
deus desconhecido, assim se expressou: aquele
a quem venerais sem conhecer, é esse que vos anuncio (At 17, 23). Maria é a
rosa por excelência, a flor mais bela e mais pura. É a nova Eva, vencedora do
pecado e do demônio simbolizados pela serpente.
Convém
lembrar que a iconografia católica representa a Virgem Maria (Nossa Senhora da
Conceição) pisando a cabeça da serpente. Foi Ela quem gerou a luz, o dia, o sol
da justiça, que é Cristo. Desta forma, o contexto e o pretexto lendário
serviram para revelar virtudes de Nossa Senhora. Atribuiu-se, assim, novo
sentido às comemorações de maio, que no catolicismo passa a ser dedicado à Mãe
de Deus.
O MÊS DE MAIO E A DEVOÇÃO A NOSSA
SENHORA
Desde a Antiguidade, ou
seja, bem antes do nascimento de Jesus Cristo, o mês de maio era ligado a um
personagem feminino. Seu nome deriva de uma homenagem a Maia, deusa da mitologia greco-romana. Esta, segundo os estudiosos,
era a mais jovem das sete Plêiades, filhas do gigante Atlas com Afrodite. Mãe
de Hermes, o mensageiro dos deuses, Maia era a deusa do renascimento e,
portanto, associada à primavera, que, no hemisfério norte, atinge o seu
esplendor no mês de maio.
Mas, antes de existir um mês chamado maio, no
calendário organizado por Rômulo, quando da fundação da cidade de Roma (753 A.C), já havia uma
ligação dessa época do ano com um arquétipo feminino.
Vejamos: a constelação que mais se destaca nas noites de maio é justamente a de
Virgem, com sua brilhante estrela Spica. Esta constelação foi assim denominada,
em alusão às atividades de jardinagem, tarefa de responsabilidade das mulheres.
Assim, durante o mês de maio, o céu passou a ser associado à figura feminina.
Vale salientar ainda, que a constelação de Virgem já
foi conhecida como Anna, a deusa do céu e esposa do deus sumério Anu. É bom
lembrar, também, que outrora esteve associada a Deméter, deusa romana da
Agricultura e a Eva, esposa de Adão, a mãe dos viventes, segundo o relato do
Livro do Gênesis.
Com o
advento do cristianismo e sua mensagem, uma nova e grandiosa figura feminina destacou-se:
Maria, a Virgem Santíssima. E assim, a veneração a Nossa Senhora veio preencher
uma lacuna existente no catolicismo, religião esta, até então, exclusivamente
patriarcal.
De
acordo com a tradição católica, o fato de Maria Santíssima ser filha de Ana, ou
Anna – que já era ligada à constelação de Virgem – contribuiu ainda mais para
que se promovesse tal associação. Cabe ressaltar igualmente que, segundo a
teologia católica, Maria é chamada de nova Eva, o que veio reforçar esta
analogia.
E como Maria Santíssima é venerada pelos católicos
como a Rainha dos Céus, seu manto é representado pela cor azul do firmamento,
simbolizando o céu. Nessa interpretação, Maria, Mãe de Jesus, é a Rainha dos Céus, daí Ave, Regina Coelorum (Salve, Ó Rainha
dos céus), uma das antífonas rezadas ou cantadas, durante o ano litúrgico, como
conclusão das Completas na Liturgia das Horas. Na Ladainha de Nossa Senhora
(também chamada Ladainha Lauretana) há uma invocação, denominando-a Porta do Céu (Ianua Coeli). Pe. João Medeiros Filho
Sacerdote da Arquidiocese de Natal, imortal da Academia de Letras do RN.
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