Logo após ter sido indicado para a presidência da República do Brasil, o general João Baptista de Oliveira Figueiredo concedeu entrevista coletiva aos jornalistas, na qual revelou sua paixão pelos cavalos de raça. Um repórter mais ousado indagara-lhe se também apreciava o “cheiro do povo”. O futuro mandatário do país não gostou da pergunta, tida por ele como impertinente e intempestiva. E assim retrucou-lhe, mal-humorado: “O cheiro dos cavalos é bem melhor”!
Com
sua resposta, o ex-presidente granjeou antipatias e foi objeto de piadas. Mas,
admitamos, sem hipocrisia, que ele expressou certamente o pensamento de alguns,
quando afirmam algo semelhante: “Não é
fácil conviver com as pessoas”. Por vezes, ainda hoje, ouvimos vários
afirmarem a frase de Thomas Hobbes: “O homem é lobo para o homem”;
ou ainda as palavras de Jean-Paul Sartre: “O inferno existe, sim: são os outros”. A partir de algumas
experiências decepcionantes, a sabedoria popular registrou este axioma
depreciativo: “Quanto mais conheço os homens, mais admiro o
meu cachorro”. Talvez, por isso, haja um número cada vez maior de
animais em muitos lares. Certamente, para tais famílias os equinos, felinos e
caninos dão menos preocupações e dissabores do que os humanos!
Claro
que não se pode generalizar nem ser pessimista. Não se deve desconhecer ou
negar a lógica do Evangelho, quando Cristo proclamara: “Olhai as aves do céu: não semeiam, não colhem, nem guardam em celeiros.
No entanto, o vosso Pai celeste as alimenta. Será que vós não valeis muito mais
do que elas”? (Mt 6, 26).
Tais
ideias vieram à nossa mente, ao reler a homilia que o Papa Francisco proferiu,
no dia 28 de março de 2013, pouco antes de abençoar os santos óleos do crisma,
dos catecúmenos e dos enfermos. Aludindo ao perfume próprio desses óleos e
dirigindo-se aos sacerdotes, recordou-lhes que a unção que receberam no dia da
ordenação presbiteral não deve afastá-los do “cheiro do povo”.
O
Bispo de Roma lembrou-lhes que tudo aquilo que não se doa, deteriora e nos faz
mal. Afirmou metaforicamente: “A unção
não foi dada para perfumar a nós mesmos. Menos ainda para que a guardemos num
frasco. Quando isso acontece, o óleo se torna rançoso e o coração fica amargo”.
Quanto mais for ungido, melhor o padre exercerá seu ministério. O Sumo
Pontífice, continuando a sua pregação, disse enfaticamente: “O bom sacerdote se reconhece pela unção que irradia. O povo gosta
do Evangelho pregado com unção, que toca o seu dia-a-dia, que ilumina suas
situações-limite”.
É
assim que o presbítero torna-se um pastor com cheiro das ovelhas. E o Papa
ainda acrescentou: “O padre que pouco sai de si mesmo, que pouco
unge, perde o melhor do que tem. Quem não sai de si mesmo, ao invés de
mediador, torna-se mero administrador”. As palavras de Bergoglio
confirmaram o que dissera, na mensagem da quinta-feira santa de 2012, ao
presbitério de Buenos Aires, prenunciando o que entendia por pastores com
cheiro das ovelhas: “A Semana Santa se apresenta como uma nova
oportunidade para acabar com um modelo fechado de evangelização, que se reduz a
repetir sempre as mesmas coisas. É preciso surgir uma Igreja de portas abertas,
não apenas para receber os que a procuram, mas, sobretudo, para sair e acolher
a quem dela não se aproxima”.
Isto também deve nos fazer pensar no
lado inverso, isto é, naquilo que o Povo de Deus pensa de nós presbíteros. Em
2008, após a missa solene da festa de Santa Luzia de Mossoró, uma devota
fervorosa da Mártir de Siracusa, referindo-se aos sacerdotes e apontando para
Monsenhor Américo Simonetti, Dom José Freire e Padre Sátiro Cavalcanti,
exclamara: “Estes, sim, têm verdadeiro
cheiro de padres”!
Pe. João Medeiros Filho, indigno escravo de amor.
Para citar esse artigo:
Pe. João Medeiros Filho - "SACERDOTES COM CHEIRO DO POVO"
Fraternidade Discípulos da Mãe de Deus
http://formacaodiscipulosdamaededeus.blogspot.com.br/2014/03/sacerdotes-com-cheiro-do-povo.html
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