sábado, 15 de março de 2014

SACERDOTES COM CHEIRO DO POVO


          Logo após ter sido indicado para a presidência da República do Brasil, o general João Baptista de Oliveira Figueiredo concedeu entrevista coletiva aos jornalistas, na qual revelou sua paixão pelos cavalos de raça. Um repórter mais ousado indagara-lhe se também apreciava o “cheiro do povo”. O futuro mandatário do país não gostou da pergunta, tida por ele como impertinente e intempestiva. E assim retrucou-lhe, mal-humorado: “O cheiro dos cavalos é bem melhor”!
Com sua resposta, o ex-presidente granjeou antipatias e foi objeto de piadas. Mas, admitamos, sem hipocrisia, que ele expressou certamente o pensamento de alguns, quando afirmam algo semelhante: “Não é fácil conviver com as pessoas”. Por vezes, ainda hoje, ouvimos vários afirmarem a frase de Thomas Hobbes: “O homem é lobo para o homem”; ou ainda as palavras de Jean-Paul Sartre: “O inferno existe, sim: são os outros”. A partir de algumas experiências decepcionantes, a sabedoria popular registrou este axioma depreciativo: “Quanto mais conheço os homens, mais admiro o meu cachorro”. Talvez, por isso, haja um número cada vez maior de animais em muitos lares. Certamente, para tais famílias os equinos, felinos e caninos dão menos preocupações e dissabores do que os humanos!
Claro que não se pode generalizar nem ser pessimista. Não se deve desconhecer ou negar a lógica do Evangelho, quando Cristo proclamara: “Olhai as aves do céu: não semeiam, não colhem, nem guardam em celeiros. No entanto, o vosso Pai celeste as alimenta. Será que vós não valeis muito mais do que elas”? (Mt 6, 26).
Tais ideias vieram à nossa mente, ao reler a homilia que o Papa Francisco proferiu, no dia 28 de março de 2013, pouco antes de abençoar os santos óleos do crisma, dos catecúmenos e dos enfermos. Aludindo ao perfume próprio desses óleos e dirigindo-se aos sacerdotes, recordou-lhes que a unção que receberam no dia da ordenação presbiteral não deve afastá-los do “cheiro do povo”.
O Bispo de Roma lembrou-lhes que tudo aquilo que não se doa, deteriora e nos faz mal. Afirmou metaforicamente: “A unção não foi dada para perfumar a nós mesmos. Menos ainda para que a guardemos num frasco. Quando isso acontece, o óleo se torna rançoso e o coração fica amargo”. Quanto mais for ungido, melhor o padre exercerá seu ministério. O Sumo Pontífice, continuando a sua pregação, disse enfaticamente: “O bom sacerdote se reconhece pela unção que irradia. O povo gosta do Evangelho pregado com unção, que toca o seu dia-a-dia, que ilumina suas situações-limite”.
É assim que o presbítero torna-se um pastor com cheiro das ovelhas. E o Papa ainda acrescentou: “O padre que pouco sai de si mesmo, que pouco unge, perde o melhor do que tem. Quem não sai de si mesmo, ao invés de mediador, torna-se mero administrador”. As palavras de Bergoglio confirmaram o que dissera, na mensagem da quinta-feira santa de 2012, ao presbitério de Buenos Aires, prenunciando o que entendia por pastores com cheiro das ovelhas: “A Semana Santa se apresenta como uma nova oportunidade para acabar com um modelo fechado de evangelização, que se reduz a repetir sempre as mesmas coisas. É preciso surgir uma Igreja de portas abertas, não apenas para receber os que a procuram, mas, sobretudo, para sair e acolher a quem dela não se aproxima”.
Isto também deve nos fazer pensar no lado inverso, isto é, naquilo que o Povo de Deus pensa de nós presbíteros. Em 2008, após a missa solene da festa de Santa Luzia de Mossoró, uma devota fervorosa da Mártir de Siracusa, referindo-se aos sacerdotes e apontando para Monsenhor Américo Simonetti, Dom José Freire e Padre Sátiro Cavalcanti, exclamara: “Estes, sim, têm verdadeiro cheiro de padres”!






Pe. João Medeiros Filho, indigno escravo de amor.







Para citar esse artigo:
Pe. João Medeiros Filho "SACERDOTES COM CHEIRO DO POVO"
Fraternidade Discípulos da Mãe de Deus
http://formacaodiscipulosdamaededeus.blogspot.com.br/2014/03/sacerdotes-com-cheiro-do-povo.html


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