O amor e
a dor são inseparáveis na vida humana. Na dinâmica da existência desejamos ser
compreendidos, perdoados e amados, mas isto não exclui o sofrimento. Porque
amamos, podemos sentir a dor da traição, desconfiança, indiferença, solidão,
distância, ingratidão e da própria morte. A perda ou partida de uma pessoa
querida faz-nos sofrer. A dor é intrínseca à vida de quem ama. A cruz de Cristo
é o resultado de seu afeto sem limites, seu perdão incomensurável, sua ternura
e misericórdia infinitas e sem precedentes.
Nenhum
ser humano ama verdadeiramente sem passar pela dor. Mas, na medida em que ela é
aceita e compreendida, poderá ser suportada. “Só quem passa pelo fogo da dor, chega ao incêndio do amor e só quem se deixa queimar por este, saberá
o que nos faz sofrer”, dissera Santo Agostinho. Quem ama, supera pequenos e grandes desencontros, com a força de
recomeçar. A grande preocupação está em condenar quem errou e não em tentar
compreender. E isto aumenta em muitos a tristeza e a decepção. “O que importa é a solução, e não o culpado”,
afirmou o Papa Francisco. Jesus não procurava saber por que alguém pecou ou
errou. Com gestos e palavras, ensinou a todos que o amor é inconsistente sem
misericórdia e perdão.
Falando
recentemente aos fiéis, na Praça de São Pedro, o Sumo Pontífice comentou: “Supomos ser justos e julgamos os outros.
Julgamos até Deus, porque pensamos que deveria punir os pecadores,
condenando-os à morte em vez de perdoar”. Agimos como o primogênito da
parábola do filho pródigo. Em vez de se alegrar com a volta do irmão, foi
atingido pela flecha do ciúme diante da acolhida do pai. Ali, Cristo quis nos
dizer que o amor não é egoísta. E se assim o for, far-nos-á sofrer ainda mais.
O amor
mais sincero, profundo, leal e desinteressado, não está isento de tristezas,
lágrimas, angústias, decepções e até separações. Pode parecer paradoxal, mas a
plenitude do amor de Cristo realizou-se na cruz. Na verdade, devemos nos
conscientizar de que a dor, na sua essência, coroa o gesto de amar.
Cabe-nos
refletir. O que aconteceu com aquele que amou sem medidas, acolheu os pecadores
e fez refeição com eles? O que ocorreu com quem curou os doentes e restabeleceu
os paralíticos, fez os surdos ouvirem e os cegos enxergarem? Como terminou a
vida daquele que realizou tantos milagres, multiplicando pães para matar a
fome da multidão? Como acabaram os dias de quem perdoou sempre, escutou,
acolheu, incluiu, compreendeu, enxugou lágrimas e amainou a angústia de tantos?
O seu fim foi a solidão, o abandono, a condenação e a morte. Quem ama
verdadeiramente, sabe disso e tem consciência de que o sofrimento também é
redentor. Foi o exemplo de Jesus de Nazaré, entregando-se totalmente, numa
prova de afeição pelos homens, que hoje nos capacita a compreender que o amor
exige renúncia e talvez nos traga provações e dores.
Amar consiste unicamente em doar-se. Poderá
tornar-se frustrante, se não entendermos que tem como objetivo fazer o outro
feliz. Se assim não for, sofreremos intensamente, pois o amor autêntico tem
apenas o caminho de ida. Cristo deu-se todo, por inteiro, sem esperar nada em
troca. Não raro, padecemos muito, quando esperamos e até exigimos retorno ou
recompensa pelo amor. Ele é dádiva total, gratuito. Deus é amor (1Jo 4, 8), por isso entregou-nos seu Filho Unigênito,
de forma absoluta e incondicional, sabendo que somos frágeis, ingratos,
pecadores e incapazes de retribuir!Pe. João Medeiros Filho, indigno escravo de amor.
Para citar esse artigo:
Pe. João Medeiros Filho - "O AMOR E A DOR"
Fraternidade Discípulos da Mãe de Deus
http://formacaodiscipulosdamaededeus.blogspot.com.br/2014/03/o-amor-e-dor.html
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