sábado, 15 de março de 2014

O AMOR E A DOR


O amor e a dor são inseparáveis na vida humana. Na dinâmica da existência desejamos ser compreendidos, perdoados e amados, mas isto não exclui o sofrimento. Porque amamos, podemos sentir a dor da traição, desconfiança, indiferença, solidão, distância, ingratidão e da própria morte. A perda ou partida de uma pessoa querida faz-nos sofrer. A dor é intrínseca à vida de quem ama. A cruz de Cristo é o resultado de seu afeto sem limites, seu perdão incomensurável, sua ternura e misericórdia infinitas e sem precedentes.
Nenhum ser humano ama verdadeiramente sem passar pela dor. Mas, na medida em que ela é aceita e compreendida, poderá ser suportada. “Só quem passa pelo fogo da dor, chega ao incêndio do amor e só quem se deixa queimar por este, saberá o que nos faz sofrer”, dissera Santo Agostinho. Quem ama, supera pequenos e grandes desencontros, com a força de recomeçar. A grande preocupação está em condenar quem errou e não em tentar compreender. E isto aumenta em muitos a tristeza e a decepção. “O que importa é a solução, e não o culpado”, afirmou o Papa Francisco. Jesus não procurava saber por que alguém pecou ou errou. Com gestos e palavras, ensinou a todos que o amor é inconsistente sem misericórdia e perdão.
Falando recentemente aos fiéis, na Praça de São Pedro, o Sumo Pontífice comentou: “Supomos ser justos e julgamos os outros. Julgamos até Deus, porque pensamos que deveria punir os pecadores, condenando-os à morte em vez de perdoar”. Agimos como o primogênito da parábola do filho pródigo. Em vez de se alegrar com a volta do irmão, foi atingido pela flecha do ciúme diante da acolhida do pai. Ali, Cristo quis nos dizer que o amor não é egoísta. E se assim o for, far-nos-á sofrer ainda mais.
O amor mais sincero, profundo, leal e desinteressado, não está isento de tristezas, lágrimas, angústias, decepções e até separações. Pode parecer paradoxal, mas a plenitude do amor de Cristo realizou-se na cruz. Na verdade, devemos nos conscientizar de que a dor, na sua essência, coroa o gesto de amar.
Cabe-nos refletir. O que aconteceu com aquele que amou sem medidas, acolheu os pecadores e fez refeição com eles? O que ocorreu com quem curou os doentes e restabeleceu os paralíticos, fez os surdos ouvirem e os cegos enxergarem? Como terminou a vida daquele que realizou tantos milagres, multiplicando pães para matar a fome da multidão? Como acabaram os dias de quem perdoou sempre, escutou, acolheu, incluiu, compreendeu, enxugou lágrimas e amainou a angústia de tantos? O seu fim foi a solidão, o abandono, a condenação e a morte. Quem ama verdadeiramente, sabe disso e tem consciência de que o sofrimento também é redentor. Foi o exemplo de Jesus de Nazaré, entregando-se totalmente, numa prova de afeição pelos homens, que hoje nos capacita a compreender que o amor exige renúncia e talvez nos traga provações e dores.
Amar consiste unicamente em doar-se. Poderá tornar-se frustrante, se não entendermos que tem como objetivo fazer o outro feliz. Se assim não for, sofreremos intensamente, pois o amor autêntico tem apenas o caminho de ida. Cristo deu-se todo, por inteiro, sem esperar nada em troca. Não raro, padecemos muito, quando esperamos e até exigimos retorno ou recompensa pelo amor. Ele é dádiva total, gratuito. Deus é amor (1Jo 4, 8), por isso entregou-nos seu Filho Unigênito, de forma absoluta e incondicional, sabendo que somos frágeis, ingratos, pecadores e incapazes de retribuir!







Pe. João Medeiros Filho, indigno escravo de amor.








Para citar esse artigo:
Pe. João Medeiros Filho "O AMOR E A DOR"
Fraternidade Discípulos da Mãe de Deus
http://formacaodiscipulosdamaededeus.blogspot.com.br/2014/03/o-amor-e-dor.html

“SE EU QUISER FALAR COM DEUS”


         Aprendemos em Filosofia que há um elo entre beleza e bondade, desejadas constantemente pela arte e pela religião. Através delas, Deus se antecipa e visita-nos pelos recursos delicados e frágeis da temporalidade. Passa pelos jardins de nossas vidas na poesia, na música, na oração, na teologia e em todas as maravilhas que nos cercam. Às vezes, tomamos consciência de que Ele está perto de nós, e de repente o perdemos. Não se deixa aprisionar. É de sua natureza e mistério. Mas, as marcas de sua passagem nos dão a consciência de sua presença. O ausente torna-se presente. Segundo o místico São João da Cruz, “o que conhecemos de Deus são apenas as pegadas de sua passagem entre nós”.
Deus não se encontra apenas nos conceitos estabelecidos pela teologia. No dizer de Adélia Prado, “Ele habita fora da definição fria e racional que dele fazem”. Há coisas que Ele sopra aos poetas e artistas. Também se manifesta na inquietude e na incerteza. “Buscai e achareis” (Lc 11, 9), dissera Cristo. O Pai se revela na pluralidade de sua grandeza. Teresa d’Ávila afirmara que: “Ele se esconde para que o descubramos. Brinca de esconde-esconde conosco para que sintamos a alegria e o prazer de encontrá-lo. Depois sorri para nós, suas eternas crianças”. 
Em 1980, Gilberto Gil compôs uma música, cujo título inspirou este pequeno artigo. A primeira estrofe da canção faz-nos refletir. Vivemos num mundo, onde há pouco espaço para o Divino. Assim se expressou o ex-ministro da Cultura: “Se eu quiser falar com Deus, tenho que ficar a sós, apagar a luz, calar a voz, encontrar a paz, folgar os nós, dos sapatos, da gravata, dos desejos, dos receios, esquecer a data, perder a conta, ter mãos vazias, a alma e o corpo nus”.
Realmente, para estar e falar com Ele, a solidão – acompanhada do silêncio e do desprendimento – é um elemento privilegiado, diríamos, íntimo e fundamental. Não se trata de uma solidão que machuca e nos distancia dos outros. E sim, aquela que nos aproxima de nós mesmos e nossas carências, de forma equilibrada e serena. A luz que devemos apagar é a das ilusões, a fim de que brilhe a chama da quietude do coração, única forma de calar a voz da angústia e desatar os nós de tudo que possa nos deixar presos à nossa escravidão interior. Eis em que consiste o início do esvaziar-se, para ter a alma e o corpo nus. É a verdade evangélica, em que Cristo ensina aos apóstolos: “Aquele que quiser ser meu discípulo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Lc 14, 33).
Se eu quiser falar com Deus, tenho que aceitar a dor”, continua o autor soteropolitano. Para se falar com Ele, a aceitação do sofrimento é essencial. Mas, não a resignação passiva ou alienada e, sim, a refletida, capaz de gerar a libertação de quem sofre e da própria dor, pela conquista da sabedoria em enfrentá-la.
É preciso que descubramos que a busca de Deus e do sobrenatural é como o pão para o faminto, o agasalho para o desnudado, a água fresca e cristalina numa tarde de verão, quando a sede se apodera de nós, como o sopro da brisa, quando estamos suados e cansados. Há uma necessidade de procurá-Lo. Acreditemos que todos os corações ardentes que se aproximam do mistério, encontrarão acolhida e proteção. “Recordai-vos de mim, que Eu me recordarei de vós” (Alcorão 2, 152). Vale terminar com as palavras de Teilhard de Chardin: “Aquele que procurar sinceramente Deus, escondido na beleza da música, da poesia, da arte e da natureza, Ele paternalmente erguê-lo-á em seus braços protetores e o fará contemplar a beleza de seu rosto”.




Pe. João Medeiros Filho, indigno escravo de amor.








Para citar esse artigo:
Pe. João Medeiros Filho “SE EU QUISER FALAR COM DEUS”
Fraternidade Discípulos da Mãe de Deus
http://formacaodiscipulosdamaededeus.blogspot.com.br/2014/03/se-eu-quiser-falar-com-deus.html

SACERDOTES COM CHEIRO DO POVO


          Logo após ter sido indicado para a presidência da República do Brasil, o general João Baptista de Oliveira Figueiredo concedeu entrevista coletiva aos jornalistas, na qual revelou sua paixão pelos cavalos de raça. Um repórter mais ousado indagara-lhe se também apreciava o “cheiro do povo”. O futuro mandatário do país não gostou da pergunta, tida por ele como impertinente e intempestiva. E assim retrucou-lhe, mal-humorado: “O cheiro dos cavalos é bem melhor”!
Com sua resposta, o ex-presidente granjeou antipatias e foi objeto de piadas. Mas, admitamos, sem hipocrisia, que ele expressou certamente o pensamento de alguns, quando afirmam algo semelhante: “Não é fácil conviver com as pessoas”. Por vezes, ainda hoje, ouvimos vários afirmarem a frase de Thomas Hobbes: “O homem é lobo para o homem”; ou ainda as palavras de Jean-Paul Sartre: “O inferno existe, sim: são os outros”. A partir de algumas experiências decepcionantes, a sabedoria popular registrou este axioma depreciativo: “Quanto mais conheço os homens, mais admiro o meu cachorro”. Talvez, por isso, haja um número cada vez maior de animais em muitos lares. Certamente, para tais famílias os equinos, felinos e caninos dão menos preocupações e dissabores do que os humanos!
Claro que não se pode generalizar nem ser pessimista. Não se deve desconhecer ou negar a lógica do Evangelho, quando Cristo proclamara: “Olhai as aves do céu: não semeiam, não colhem, nem guardam em celeiros. No entanto, o vosso Pai celeste as alimenta. Será que vós não valeis muito mais do que elas”? (Mt 6, 26).
Tais ideias vieram à nossa mente, ao reler a homilia que o Papa Francisco proferiu, no dia 28 de março de 2013, pouco antes de abençoar os santos óleos do crisma, dos catecúmenos e dos enfermos. Aludindo ao perfume próprio desses óleos e dirigindo-se aos sacerdotes, recordou-lhes que a unção que receberam no dia da ordenação presbiteral não deve afastá-los do “cheiro do povo”.
O Bispo de Roma lembrou-lhes que tudo aquilo que não se doa, deteriora e nos faz mal. Afirmou metaforicamente: “A unção não foi dada para perfumar a nós mesmos. Menos ainda para que a guardemos num frasco. Quando isso acontece, o óleo se torna rançoso e o coração fica amargo”. Quanto mais for ungido, melhor o padre exercerá seu ministério. O Sumo Pontífice, continuando a sua pregação, disse enfaticamente: “O bom sacerdote se reconhece pela unção que irradia. O povo gosta do Evangelho pregado com unção, que toca o seu dia-a-dia, que ilumina suas situações-limite”.
É assim que o presbítero torna-se um pastor com cheiro das ovelhas. E o Papa ainda acrescentou: “O padre que pouco sai de si mesmo, que pouco unge, perde o melhor do que tem. Quem não sai de si mesmo, ao invés de mediador, torna-se mero administrador”. As palavras de Bergoglio confirmaram o que dissera, na mensagem da quinta-feira santa de 2012, ao presbitério de Buenos Aires, prenunciando o que entendia por pastores com cheiro das ovelhas: “A Semana Santa se apresenta como uma nova oportunidade para acabar com um modelo fechado de evangelização, que se reduz a repetir sempre as mesmas coisas. É preciso surgir uma Igreja de portas abertas, não apenas para receber os que a procuram, mas, sobretudo, para sair e acolher a quem dela não se aproxima”.
Isto também deve nos fazer pensar no lado inverso, isto é, naquilo que o Povo de Deus pensa de nós presbíteros. Em 2008, após a missa solene da festa de Santa Luzia de Mossoró, uma devota fervorosa da Mártir de Siracusa, referindo-se aos sacerdotes e apontando para Monsenhor Américo Simonetti, Dom José Freire e Padre Sátiro Cavalcanti, exclamara: “Estes, sim, têm verdadeiro cheiro de padres”!






Pe. João Medeiros Filho, indigno escravo de amor.







Para citar esse artigo:
Pe. João Medeiros Filho "SACERDOTES COM CHEIRO DO POVO"
Fraternidade Discípulos da Mãe de Deus
http://formacaodiscipulosdamaededeus.blogspot.com.br/2014/03/sacerdotes-com-cheiro-do-povo.html


O CRISTIANISMO É PARADOXAL


          Perguntamo-nos o que significa realmente um paradoxo? Trata-se de uma figura de linguagem, que consiste em associar afirmações aparentemente contraditórias, ou uma situação inversa à intuição comum. Em termos simples, é o oposto daquilo que alguém pensa ser a verdade. Quem costuma visitar sites e blogs vai se deparar com pensamentos do ator George Carlin, em que descreve vários paradoxos de nosso tempo. Há afirmações que nos remetem ao Evangelho, tais como: “Já fomos à lua e dela voltamos, mas temos dificuldade em atravessar a rua e nos encontrar com nosso novo vizinho. Conquistamos o espaço exterior, mas não o interior. Às vezes limpamos o ar, mas poluímos as almas. Dominamos o átomo, mas não os nossos preconceitos. Falamos mais e aprendemos menos. Corremos mais, mas não sabemos esperar”.
         No entanto, foi o próprio Cristo o autor dos paradoxos mais surpreendentes que talvez possamos conhecer. É lapidar a sua frase: “Pois quem quiser salvar a sua vida, a perderá, mas quem perder a sua vida por causa de mim, a encontrará” (Mt 16, 25). No Sermão das Bem-aventuranças encontramos a expressão mais paradoxal do cristianismo. A um mundo voltado para a violência e a vingança, o Filho de Deus prega a paz e a mansidão. Aos preconceituosos, contrapõe a pureza e o desarmamento do coração. À sociedade que valoriza o ter, recomenda o despojamento e a pobreza. Aos egoístas e insensíveis, coloca diante deles a misericórdia.
          Há ensinamentos de Cristo que nos desafiam. Vão de encontro à lógica dos homens. Sua mensagem, por vezes, entra em choque com a realidade do mundo. Ensinou que os humildes serão exaltados. O balão do orgulho pode subir a grandes alturas, mas de tanto inflar, acabará explodindo. Jesus é o nosso maior exemplo “Despojou-se, tornando-se homem. E encontrado em aspecto humano, humilhou-se, fazendo-se obediente até a morte – e morte de cruz!” (Fl 2,7-8). Foi categórico e lançou, ao mesmo tempo, um alerta e desafio, ao afirmar: “Pois todo aquele que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado” (Lc 14, 11). E convida-nos a segui-lo: “Aprendei de mim que sou manso e humilde” (Mt 11, 29)
         O que poderia ser mais paradoxal do que o Filho de Deus, Senhor do Universo, ajoelhado, lavando os pés de seus discípulos? ”Derramou água numa bacia, pôs-se a lavar os pés dos discípulos e enxugava-os com a toalha que trazia à cintura” (Jo 13,5).  E, com esse gesto, não era a primeira vez que chamava a atenção sobre o valor da humildade. Sendo tão humilde, Cristo é desconcertante para muitos. Ele, o único que poderia ter escolhido como desejava nascer, entrou nesta vida anonimamente, sem a pompa das côrtes e dos palácios. E ensinou: "Eu, porém, estou no meio de vós, como aquele que serve" (Lc 22, 27b). E, "quando ultrajado, não revidava com ultraje" (1Pd 2, 23). Certa feita, quando alguns apóstolos mostraram espírito de competição e sede de poder, colocou uma criancinha ao seu lado e disse-lhes: “Quem receber em meu nome esta criança, estará recebendo a mim. Pois aquele que, entre todos vós, for o menor, esse é o maior” (Lc 9, 47-48).
        O apóstolo Paulo, à semelhança do Mestre da Galileia, escreve, de forma insólita, palavras compreensíveis apenas à luz da fé. Somos mais fortes quando estamos enfraquecidos. “Pois, quando estou fraco, então é que sou forte” (2Cor 12, 10b). Aprendeu a fortalecer-se em Cristo. Quando vivemos unidos a Ele, recebendo diariamente sua graça, poderemos até parecer frágeis, mas, na verdade, é quando estaremos mais fortes. “Nada sou, nada posso, mas, tudo posso, naquele que me fortalece” (Fl 4, 13), exclama São Paulo, descobrindo o segredo que o tornou “mais que vencedor” (Rm 8, 37) e por isso reconhece e confessa: “... de bom grado, gloriar-me-ei das minhas fraquezas, para que a força de Cristo habite em mim” (2Cor 12, 9).





Pe. João Medeiros Filho, indigno escravo de amor.








Para citar esse artigo:
Pe. João Medeiros Filho - "O CRISTIANISMO É PARADOXAL"
Fraternidade Discípulos da Mãe de Deus
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terça-feira, 3 de dezembro de 2013

DEUS É MISERICORDIOSO, CLEMENTE E COMPASSIVO


A fé não é fruto de meros conceitos teóricos ou abstratos, e sim de uma experiência íntima com Deus. Faz parte da nossa história de salvação e daquela vivida pelo Povo do Antigo Testamento. Daí, para compreendê-la melhor, é fundamental conhecer bem a Sagrada Escritura. Ela ensina-nos que a misericórdia é essência do Divino. Outras religiões também reconhecem que Deus é compassivo e clemente. A Sura Al-Fatiha, primeiro capítulo do Alcorão, volta-se para tais atributos.
No entanto, isso nem sempre está claro no conceito que se tem de Deus. Não raro, opõem-se Nele poder e misericórdia, como se fossem excludentes ou antagônicos. A fé cristã não deve permitir essa dualidade. A clemência e a compaixão divina ultrapassam a sua justiça. Deus é todo-poderoso, mas igualmente onipotente no perdão, o qual está implícito em seu julgamento. E isso é a misericórdia, na concepção bíblica e teológica. Muitos têm uma imagem errônea e distorcida de Deus, pois o veem como um juiz implacável, quase um carrasco. Na verdade, Ele é Amor e sua bondade paternal transcende a nossa imaginação.
O povo da Antiga Aliança comprovou muitas vezes que o Todo Poderoso punia os culpados, para que voltassem ao caminho da retidão. O Senhor é “fiel e perdoa culpas, rebeldias e pecados” (Ex 34,6-7). A justiça divina é pedagógica e deseja levar o homem a refletir e mudar de vida. Tendo reconhecido o seu erro, arrependendo-se e comprovando o desejo de conversão, “Javé se recorda de sua misericórdia” (Sl 25,6).
O Senhor é sensível e benevolente. Esta é uma das convicções sólidas dos cristãos e dos hebreus. Por volta dos anos 700, antes da era cristã, o profeta Isaías recordava muitas vezes que Javé “se compadece do seu povo, com misericórdia eterna” (Is. 54,8).
São Paulo emprega frequentemente essa terminologia para referir-se a Deus, a quem chama de “Pai de misericórdia e de toda consolação” (2Cor 1,3). Ele é “rico em compaixão e bondade”, pois nos amou, mesmo sendo pecadores e sem sequer conhecê-lo (Ef 2,4-5). O próprio Apóstolo dos Gentios confessa ter experimentado a magnanimidade divina, por intercessão de Jesus, apesar de ter sido blasfemo e perseguidor de Cristo (1Tm 1,13. 16).
O Mestre da Galileia dá-nos a conhecer claramente que seu Pai é generoso e indulgente, reprovando o farisaísmo e a hipocrisia dos doutores da lei, que o criticavam porque acolhia os publicanos e comia com os pecadores. Recordou-lhes as palavras de Isaías: “misericórdia eu quero, e não holocaustos” (Mt 9,13). Beleza, riqueza e poesia são as parábolas de Lucas (Lc 15), como a do filho pródigo, em que Cristo mostra a ternura, a benignidade e o perdão do pai: imagem de Deus. Embora respeite a opção de seu filho, mesmo quando o rejeita e abandona, ele fica esperando de braços abertos, o seu retorno, pronto para acolhê-lo. E festeja a sua volta, posto “que estava morto e tornou à vida; estava perdido e foi encontrado” (Lc 15,32).
              O Papa Francisco, em seus pronunciamentos, leva-nos a refletir sobre o significado das afirmações da fé cristã. Crer em Deus significa, antes de tudo, confiar em sua inefável clemência, cuja justiça é muito mais abrangente e complacente que a nossa. Ele quis salvar os homens e o mundo, não pelo ódio, castigo ou temor, e sim pelo amor e pelo perdão. Ficam aqui as palavras de Jorge Mário Bergoglio: “Deus não nos trata conforme a mesquinhez de nossos pensamentos e pecados, mas conforme a abundância de sua benignidade, seu amor, sua benevolência incomensurável e seu perdão sem limites”.






Pe. João Medeiros Filho, indigno escravo de amor.







Para citar esse artigo:
Pe. João Medeiros Filho "Deus é Misericordioso, Clemente e Compassivo"
Fraternidade Discípulos da Mãe de Deus
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